Era exatamente meia noite e Sara estava sozinha chorando desesperadamente no apartamento que dividia com o seu namorado Miguel. Ela estava desolada, afinal o homem que ala amava acabara de sair pela porta dizendo aos berros e cheio de ódio que nunca mais queria vê-la em sua vida, que ia embora e que não mais voltaria e que não era capaz de amar uma assassina. Sua dor era tão física quanto psicológica, afinal não são todas as mulheres que conseguem agir tranquilamente após cometerem um aborto, ainda mais no caso dela que crescera num lar religioso com uma mãe que condenava amargamente as mulheres que cometiam tal ato. Assassina? Então é isso o que eu sou agora? Uma assassina? Um monstro? Perguntava-se Sara desesperada prestes a enlouquecer com a culpa que reinava agora em seu pensamento. Mas ela não sabia por que se sentira tão mal agora, já que quando decidiu fazer isso parecia ser tão certo, afinal ela estava protegendo o seu futuro e o futuro de Miguel, pois ambos haviam acabado de ingressar na faculdade e uma criança agora seria um grande empecilho para os planos perfeitos dos dois.
Perturbada e sem saber o que fazer, Sara levantou-se do sofá, ainda com dor, seguindo até o seu quarto para pegar seu casaco vermelho com capuz que ganhara de Miguel em um dia comum, afinal ele sempre dizia que não era necessária uma data especial para se presentear alguém que ama. Após pegar o casaco, Sara passou pela sala pegando suas chaves que estavam em cima da mesa seguindo então em direção a porta. Ao sair do prédio percebendo que chovia mais do que imaginava e ignorando mesmo assim, ela começou então a caminhar sem rumo algum entrando rua após rua sem nenhum destino certo até que então se deparou com uma boate qualquer em uma esquina e sem pensar duas vezes entrou com a roupa molhada e o rosto lavado pela água da chuva que levou junto a ela cada lágrima de desespero derramada enquanto caminhava naquela madrugada.
O lugar não tinha nada de incomum, talvez só o fato de estar aberto em plena a terça-feira, o que também explicaria o pequeno número de pessoas presente. A maioria delas estavam sentadas em sofás que ficavam no canto para garantir um lugar mais reservado, as outras estavam dançando, não tinha ninguém no bar então foi para lá que Sara seguiu sentando-se imediatamente e pedindo um refrigerante para o garçom já que não bebia nenhum tipo de bebida alcoólica. Sua garganta estava seca e seu estomago doía de fome, há um dia ela tinha feito um aborto e desde então não conseguira comer nada, perdera totalmente o apetite e agora seu estômago parecia reclamar, não trazendo com ele uma sensação de fome, mas de dor, um pequeno incômodo no estômago para combinar com sua forte e constante cólica que não lhe dava paz a exatas vinte e quatro horas.
O refrigerante chegou e Sara recusou o copo que o garçom lhe ofereceu, abrindo a lata e pegando um dos canudos presos a um suporte no balcão, deu o seu primeiro gole, colocou as duas mãos no rosto e começou chorar. Ela não conseguia parar de pensar um minuto se quer no que havia feito, sabia que iria se sentir culpada por toda a vida, e o que é pior, ela estava sozinha agora, sem ninguém, não poderia contar nem com os seus pais, afinal eles a julgariam ainda pior e a tomariam por motivo de vergonha, como a filha que pôs fim a uma vida. Seu choro foi interrompido por uma voz rouca, porém macia, surgiu do seu lado dizendo: “Morena, olhos castanhos, cabelos longos e lisos, corpo escultural. Esse lugar é um tanto inconveniente para uma jovem tão bonita e sozinha não acha?”. Sentindo-se incomodada à jovem virou-se para o rapaz que havia acabado de sentar ao seu lado e quando estava prestes a atingi-lo com algumas palavras de incomodo e insatisfação, ela foi então surpreendida ao perceber que o tal incomodo vinha de alguém incrivelmente perfeito. Sim ele era um estranho, mas um estranho lindo! Alto, loiro, forte, olhos verdes e um furinho no queixo que o dava ainda mais charme. Desculpe! O que disse? Foi só o que ela conseguiu dizer ao encarar aqueles olhos que a fitava tão intensamente. Ele pediu pra que ela esquecesse o que ele havia dito e então se apresentou, e logo ela soube que o nome do tal estranho era Gabriel, um nome doce para um homem encantador, pensou ela. Ela realmente havia gostado do que viu e agora que sabia o nome dele, ele não era mais um estranho pra ela, pelo menos era o que ela achava.
Ela se apresentou e ele logo tratou de iniciar uma conversa, perguntou o que a levou até lá sozinha e àquela hora da madrugada e porque ela estava chorando. Ela contou toda a história e ficou impressionada em como ele havia encarado tudo aquilo, sem a julgar o rapaz a ouviu e entendeu os motivos que a levara a tomar tal decisão e em momento algum a olhou com indiferença ou espanto, o que finalmente a fez sentir que não estava sozinha e que alguém no mundo a compreendia. Enquanto conversavam ele a convenceu a beber algo com um pouco de álcool, mas nada tão agressivo, como um vinho no caso. Disse que isso a faria relaxar um pouco, o suficiente para não ter que encarar tudo aquilo como o grande problema que era pelo menos por um momento, ela aceitou e ele a acompanhou é claro e entre uma taça e outra antes que Sara percebesse, ela começava a ficar bêbada e já não sentia mais dor ou fome alguma.
Sara ria de uma piada que Gabriel havia terminado de contar quando o DJ começou a tocar “Sexy bitch” do david guetta. Cara, eu adoro essa música! Disse ela empolgada puxando o rapaz para o meio da pista de dança começando então a dançar com aquela batida cheia de sensualidade junto a ele. Ela estava extremamente linda e sensual mesmo usando apenas uma calça jeans, uma camiseta básica, um casaco vermelho e um All Star. Enquanto dançava ela cantava acompanhando a voz do Akon no momento dele na música, e fitando os olhos do rapaz começou a tirar o casaco lentamente lançando-o em seguida por trás do pescoço dele e puxando-o para mais perto dela dando-lhe então um beijo. Ele a agarrou firme pela Cintura mantendo os corpos bem colados, e ela segurava firme e acariciava o cabelo dele até que então o clima começou a esquentar. Que tal sairmos daqui e irmos para um lugar mais legal e que nos deixe mais a vontade? Perguntou Gabriel com uma voz intensa e sedutora. E para onde você me levaria? Sara perguntou de volta. Isso é segredo! Ele respondeu puxando ela pela mão e levando-a para fora da boate e em direção ao seu carro.
Miguel, que passava dentro de um taxi no momento em que Sara e Gabriel entravam no carro, pediu que o motorista diminuísse a velocidade ao perceber que sua namorada estava bêbada, o que definitivamente não era normal, e sem querer fazer uma cena pediu que ele seguisse um pouco mais adiante e estacionasse o carro no acostamento para esperar o carro em que Sara e tal rapaz estavam. Quando passaram, Miguel pediu que o motorista os seguissem e enquanto os acompanhava ele estranhou a estrada que tomavam, ela dava para uma antiga reserva abandonada cheia de árvores e com a mata alta em alguns lugares. Ele tentou usar o celular para ligar para Sara e perguntá-la onde estava para ver o que ela responderia, mas não tinha área e o aparelho estava sem sinal, então ele fechou os olhos por um minuto e pensou em tudo o que havia acontecido naquela noite. Creio que nós os perdemos Senhor! Disse o motorista. Como assim os perdemos? Perguntou Miguel surpreso com o que ouviu. Então o taxista explicou que eles haviam entrado na mata e que não poderia seguir adiante e correr o risco de danificarem os pneus e acabarem ficando presos ali. Então ele pediu ao motorista que o esperasse enquanto ele ia atrás deles, desceu do carro e seguiu em direção a mata fechada, ele não sabia como iria encontrá-los no meio daquilo tudo, mas sabia que corria um grande risco de se perder naquele lugar.
Enquanto isso Sara e Gabriel iam cada vez mais mata adentro até que chegaram a um lugar próximo a um penhasco sem mata alta, com apenas uma árvore no canto e com uma visão limpa do céu. Ela ficou enfeitiçada com a beleza do lugar e então olhou sorrindo para o rapaz e perguntou o que eles iam fazer para aproveitar um cenário tão maravilhoso, então ele a puxou para mais perto e a beijou. Você é tão boba Sara! Disse Gabriel sussurrando em seu ouvido. O que disse? Perguntou ela de volta. Como pode confiar tanto assim em um estranho qualquer? Respondeu ele com outra pergunta. Assustada Sara o empurrou e ao encará-lo não podia acreditar no que via. Aquele não era mais o Gabriel, alguma coisa havia mudado em seu rosto, foi aí então que ela notou que seus olhos agora eram negros e sem vida. Assustada e sem entender o que era aquilo, Sara abriu a porta do carro e correu em direção à mata, ela não sabia o que ele era, mas sabia que não era normal e que aquela coisa queria matá-la, então ela correu sem nem ao menos tentar lembrar o caminho que a levaria para a estrada, ela apenas correu, correu para tentar se Salvar.
Enquanto corria, Sara via aquela coisa surgir a cada momento em um lugar diferente, hora em cima das árvores, hora entre os arbustos e às vezes até mesmo cruzando a sua frente, o que a deixava ainda mais desesperada fazendo-a correr ainda mais. Ela entrou em meio a uma mata ainda mais fechada e cheia de galhos de plantas menores que machucavam a sua pele e rasgavam a sua roupa, até que então um desses galhos pequenos acertou os seus olhos deixando-a cega por um momento fazendo-a tropeçar e cair no chão batendo com a cabeça. Quando acordou ela estava de volta aquele lugar próximo ao penhasco, mas agora estava nua e tinha o seu corpo todo arranhado, ela havia sido arrastada até lá e agora estava novamente cara a cara com aquela criatura. Porque está fazendo isso comigo? O que você quer de mim?Por favor diga quem é você! Perguntou a jovem chorando desesperadamente. Vou começar pela última pergunta! Eu sou um demônio Sara e estou fazendo isso porque quero matá-la, quero a sua alma para fazê-la arder no inferno junto com os outros que já estão lá. E eu te trouxe até aqui só para acabar com você! Tenho te seguido dia após dia desde o momento em que se teve indicio da sua existência e venho planejando isso cuidadosamente. Só não sabia que seria assim tão fácil! Acho que dos meus trabalhos você foi o mais fácil. Deixe-me explicar o que faço: A cada pessoa que existe um demônio a persegue vinte e quatro horas por dia desde o momento em que ela é gerada, e você foi a minha sorteada Sara, e a cada segundo da sua vida eu estava lá, observando você e esperando um vacilo seu para que eu tivesse espaço para acabar com a sua vida, e esse momento chegou no exato instante em que cometeu aquele aborto trazendo a desolação e o desespero para a sua vida, e tudo o que eu tive que fazer foi te dar um pouquinho da minha atenção. É incrível como o ser humano se desespera fácil e se entrega rapidamente a qualquer coisa que lhe aparente segurança sem nem ao menos ter certeza se é ou não realmente seguro.Respondeu por fim a estranha criatura. Ainda mais desesperada com o que acabara de ouvir Sara olhou para o lado em busca de algo para se defender e então viu uma pequena cruz velha e enferrujada próximo à árvore, meio escondida em umas folhagens, com dor ela se arrastou com dificuldade em direção ao objeto e ao pegá-lo o apontou em direção ao demônio ordenando que se afastasse dela, mas ele só fazia rir de toda a situação chegando cada vez mais próximo dá jovem indefesa, e quando ela o viu bem perto, Sara deu o seu ultimo grito de desespero, e então o seu mundo se fez trevas.
Já estava amanhecendo, e ao ouvir o grito de Sara, Miguel que ainda a procurava percebeu a direção que deveria tomar e então correu aflito ao imaginar que o pior poderia estar acontecendo. Ele correu o mais rápido que podia, foi até o seu último limite e ao avistar através dos arbustos o carro em que vira Sara e o estranho juntos, parou estranhando a calma do local e fitou intensamente o veículo à distância. E então, aos poucos ele foi se aproximando e ao chegar no lugar exato, teve então uma terrível surpresa! DEUS! QUE MERDA É ESSA? Gritou o jovem aflito ao se deparar com o corpo nu e inteiramente machucado de uma mulher pendurada de cabeça para baixo por uma de suas pernas numa árvore, com o rosto totalmente desfigurado e uma cruz enferrujada enfiada em seu ventre.