sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um anjo torto.



 Era tarde de verão e Yara, sentada á sombra de uma árvore que ficava a beira do lago próximo ao sítio de sua avó, escrevia mais um de seus poemas em uma folha solta de papel de carta fino que pegara escondido nas coisas de sua mãe. Ela cantarolava lindas canções que falavam de amor, sonhos e esperança enquanto criava suas rimas poéticas quando então foi surpreendida por uma breve ventania que passou bagunçando seus lindos cachos largos e negros como o café, e levando com ela o poema que a linda garota escrevia.
                Yara correu, na esperança de conseguir alcançar a pequena folha verde água com bordas douradas e preenchida por sua letra, mas o vento foi mais rápido que ela e logo a garota perdeu sua mais nova poesia ao vê-la voar cada vez mais alto em direção ao céu, fazendo até a menina estranhar a forma com que ela subia pois parecia que estava sendo puxada por alguém mesmo que estivesse subindo de forma desordenada, ziguezagueando pelo ar. Então, cansada e com os cabelos desgrenhados que por mais bagunçados que estivessem ainda assim não conseguiam deixá-la menos bonita, a linda garota da pele dourada e olhos castanho esverdeados voltou para casa antes que sua avó desse fé da sua ausência no quarto já que havia fugido pela janela na hora em que deveria estar fazendo o dever de casa.
                Na tarde seguinte, Yara aproveitou que sua avó havia ido a cidade resolver alguns problemas no banco – o que a ocuparia a tarde inteira – e foi nadar no lago. O lugar era encantador! Tinha uma grama macia, árvores que ofereciam frutas e sombra, flores que perfumavam e enfeitavam o ambiente, pássaros que faziam a trilha sonora do momento, uma brisa que refrescava e um lago de uma água clara e limpa que dava ainda mais vida e transformava tudo aquilo no mais perfeito paraíso. Antes de mergulhar, Yara tirou sua roupa e sentiu o ar fresco tocar o seu corpo nu, ela adorava aquela sensação e não se importava em estar sem roupa, pois sabia que poucos iam ali e o único sinal de moradia existente nas redondezas era o sitio da sua avó, então ela aproveitava e exibia para a natureza a perfeição de seu corpo que mais parecia ter sido feito a mão. Nada nela era exagerado, suas curvas eram delicadas e sensuais e chamavam a atenção com o dourado da sua pele, seus cabelos eram longos e enfeitados por cachos largos que se destacavam com seus olhos claros e seus lábios levemente carnudos e avermelhados. Era incrível como alguém tão pequeno conseguia chamar atenção e como uma garota de 17 anos tinha o encanto de uma mulher sem a menor intenção e o menor esforço.
                Após o mergulho, Yara vestia a roupa quando de repente... “Ai!” Atordoada, levando às mãos a cabeça e os olhos ao céu ela procurou o que poderia tê-la acertado e não encontrando nada olhou em seguida para o chão, onde então avistou um curioso envelope prata amarrado a uma pedra não muito pequena e de cor acinzentada. Apressando-se em terminar de se vestir, a menina pegou logo em seguida aqueles dois objetos, desamarrando o envelope que estava preso a pedra por um pequeno cordão prata, abrindo-o logo depois. Ela tirou de dentro dele duas pequenas folhas, uma verde água com bordas douradas que logo identificou sendo sua poesia que escrevera um dia antes e fora levada pela repentina ventania, e outro papel bem fino, quase transparente, enfeitado com uma bela letra com a tinta na cor prata também. Sentando-se em baixo de uma árvore, a menina começou a ler as palavras presentes naquela pequena carta que traziam a seguinte mensagem:
“Boa tarde doce menina!
Digo doce e menina, porque as palavras que li neste pequeno papel verde água que nesse momento lhe devolvo só podem ter sido escritas por uma garota jovem e encantadora. Peço perdão pela forma com que essa folha foi tomada da Senhorita, é que o vento que passa às três da tarde é um pouco levado e não perde a chance de bagunçar as coisas de alguém. Só que dessa vez acho que ele foi um pouco mais além me trazendo essa pequena folhinha dessa forma tão malcriada. Então, peço, por favor, que o perdoe em meu nome, ele não faz isso por mal.
                                                                                            Atenciosamente...
                                                                                                                          Príncipe Aislin”.
                Ao terminar de ler, Yara não sabia o que pensar daquilo e para ter certeza de que não estava delirando leu mais quatro vezes seguidas o conteúdo daquele curioso papel e vendo que era aquilo mesmo, chegou à conclusão de que não estava entendendo nada e preferiu enxergar a situação como uma brincadeira de mau gosto vinda de alguma das filhas pequenas do caseiro, mesmo sabendo que elas ainda não sabiam ler nem escrever direito, e sem saber onde elas conseguiriam um papel e um envelope como aqueles. Então, ignorando a situação e tentando abafar a desconfiança, Yara guardou sua poesia e aquele bilhete no bolso de sua calça e voltou para casa.
                Na manhã seguinte, durante a aula, a menina não conseguia pensar em outra coisa a não ser naquelas palavras com conteúdo curioso. “Príncipe? Perdoar o vento? Como assim?” Yara indagava consigo mesma procurando algum sentido óbvio naquelas palavras, mas não conseguia encontrar, afinal, que príncipe existente no mundo devolveria exatamente a ela um papel qualquer com uma poesia levada pelo vento? Isso era algo que ela com certeza considerava ser impossível e acima de tudo um estado de loucura para quem escreveu aquilo e a loucura certa para quem acreditasse, mas era curioso de mais e aquela pedra era estranha de mais! Ela nunca tinha visto uma pedra como aquela antes, sua cor, sua consistência eram esquisitas, parecia ser de outro planeta. Mas foi na volta para casa – levava uma hora da escola, que ficava na cidade, para o sítio onde Yara morava - que a menina chegou a uma conclusão! Ela iria tirar essa história a limpo com as filhas do caseiro e se a resposta fosse negativa, o próximo passo que daria seria um tanto ridículo para a lógica humana.    
                Assim que chegou ao sítio, a jovem menina correu para a casa do caseiro e questionou as meninas – trigêmeas – sobre uma suposta poesia que poderiam ter encontrado, lido e respondido com um bilhete, mas elas negaram qualquer tipo de conhecimento ou participação naquilo. Frustrada com a resposta das garotas, Yara correu para a sua casa, subiu até o seu quarto, trocou o seu uniforme por um vestido de algodão na cor azul, enfiou uma toalha, um pequeno caderno e uma caneta dentro de uma pequena mochila, desceu passando pela cozinha para pegar algo para comer e saiu seguindo em direção ao lago. Ao chegar, a linda menina jogou suas coisas em baixo da árvore que costumava ficar sempre, tirou a roupa e mergulhou naquela água tranquila que lhe proporcionava uma sensação de liberdade incrível, pois ali ela podia mergulhar nua sem medo e sem censura, naquele momento era só ela e a natureza onde a única ordem era nadar, sentir o frescor da água no seu corpo e se deleitar.
                Ao sair da água, Yara secou-se com sua toalha, vestiu sua roupa, abriu a mochila e retirou dela o pequeno caderno, a caneta e uma maçã que pegara na cozinha de sua casa. Após abrir o caderno ela deu uma mordida na fruta e começou a escrever logo em seguida as seguintes palavras:
“Príncipe Aislim...
                Ou devo chamá-lo de “Alteza”? Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por ter devolvido o meu poema, mas quero deixar bem claro desde já que me sinto um tanto ridícula respondendo a sua carta, ou tentando pelo menos, já que não tenho tanta certeza de que ela vá chegar até você, se é que você existe mesmo.
                A verdade é que eu achei tudo isso esquisito de mais, nada faz sentido para mim. Primeiro o vento leva a minha poesia e no dia seguinte eu sou atingida por uma pedra não muito pequena bem no meio da minha cabeça e me deparo com um envelope esquisito preso a ela trazendo dentro dele o meu poema e uma carta muito suspeita, com palavras suspeitas, uma letra suspeita, papel, tinta e assinatura mais suspeitas ainda. Se você é um príncipe mesmo eu não sei, mas deixo bem claro que duvido muito de tudo isso, pois essa conversa de perdoar o vento, do vento ser meio traquina e levar coisas para você, pra mim foge da lógica humana e não passam de palavras vindas de um possível lunático ou de alguma criança muito mau criada pregando uma peça muito sem graça. Dito isso, é óbvio que não tenho muita esperança em receber alguma resposta sua.
                                                                      Mesmo assim, obrigada por ler...
                                                                                                                                   Yara Marcielo.”
                Ao terminar de escrever o bilhete Yara o dobrou, e ao olhar no relógio viu que faltavam apenas cinco minutos para as três da tarde e então ficou de pé para aguardar aquela mesma ventania que deu inicio a toda aquela história, e então, no horário exato aquele mesmo vento passou. A menina ficou na ponta dos pés e lançou com força o papel para o alto vendo-o subir imediatamente como o ultimo que da mesma maneira fora levado, então ela deitou na grama e continuou a observar aquele folhinha que ia cada vez mais alto em direção ao céu de forma desajeitada, mas sem perder o seu rumo. “Eu não acredito que estou fazendo isso, só posso ter perdido o juízo!” Pensou a menina incrédula perante sua atitude á uma coisa que fugia completamente do normal. Feito isso, a garota pegou suas coisas e voltou para o sítio a fim de fazer o seu dever de casa e esperar pelo dia seguinte.
                Ao retornar da escola Yara recebeu de imediato uma ordem de sua avó que a proibia de sair de casa naquela tarde para que ela ajudasse nos preparativos do jantar que seria oferecido em homenagem ao aniversário de seu avô. “Porque não chama a mulher do caseiro? Sabe que eu tiro a tarde para nadar e escrever, vovó”. Disse a menina atordoada com a idéia de passar o dia presa dentro de casa ajudando sua avó a resolver coisas chatas como decidir se usar talheres dourados ao invés de prata em um jantar de aniversário é exagero ou não. “A mulher do caseiro está responsável pela limpeza dessa casa enorme junto com a empregada, pois não temos muito tempo para por tudo em ordem. E você vai me ajudar a resolver as coisas da mesa e também na cozinha, tem muita comida para ser feita e a cozinheira sozinha não dá conta, preciso de você aqui e é o que vai fazer, vai ficar. Essa é a minha ultima palavra, trate de subir e tomar um banho, depois do almoço começaremos a fazer tudo”. A menina não queria, mas acatou a ordem da avó. “Droga! Logo hoje que eu ia ver se aquele “príncipe” respondeu a minha carta, ou não, e eu tiraria a certeza se isso foi uma brincadeira ou se sou eu mesma que estou delirando”. Resmungou a menina ao subir as escadas. Yara era linda, inteligente e teimosa! Mas passava por cima da sua teimosia quando sua avó precisava de sua ajuda, ela detestava vê-la trabalhar sozinha e mesmo que estivesse cheia de preguiça ou de coisas para fazer, ela não se negava a ajudá-la.
                O sol começava a se pôr e  Yara estava em seu quarto se preparando para o jantar de aniversário de seu avô. Ela estava linda vestida em um mini vestido justo na cor lilás acompanhado por um par de brincos delicados de pedraria dourada e um lindo par de sapatos de salto alto na cor preta. Ela arrumava seu cabelo em uma linda trança de lado quando se assustou com alguém batendo na porta de seu quarto e chamando o seu nome. Ao abrir a porta viu que era uma das filhas pequenas do caseiro que ao vê-la disparou a falar. “Oi Yara! Hoje eu fui ao lago escondida dos meus pais e das minhas irmãs e enquanto caminhava encontrei esse envelope estranho amarrado a essa pedra com o seu nome nele, então eu imaginei que fosse seu. Mas só te entrego se prometer não contar a ninguém que eu saí escondida”. Com a promessa feita e o envelope na mão - agora livre da pedra que Yara acabara de desamarrar do cordão que ligava os dois - a menina sentou na cama e começou a ler isto:
“Olá mais uma vez, pequena desaforada...
                Agradeço por sua gratidão e peço desculpas por ter atingido sua cabeça com uma pedra, eu a amarrei ao envelope para que descesse mais rápido e chegasse logo até você e dou minha palavra de que não foi minha intenção machucá-la, espero que com sorte eu não a acerte dessa vez, e quanto as suas duvidas sobre mim, lamento, mas nada posso fazer! Nunca fiz questão de que me levassem a sério e não é porque uma simples moradora da terra que eu nem conheço de repente duvida de mim, que eu vou enlouquecer e fazer de tudo para fazê-la acreditar na autenticidade do meu titulo e da minha existência. Nada fiz para merecer uma resposta tão malcriada, tudo o que eu fiz foi devolver algo que pertencia a Senhorita, mas creio que isso não foi algo muito inteligente da minha parte.
                                         Mesmo assim, peço perdão por tudo isso!                                                                                      
                                                                          Príncipe Aislin... Ou “louco lunático” se preferir”.

                “Ele me respondeu!”. Sussurrou a menina admirada pegando imediatamente papel e caneta para responder aquela carta, escrevendo essas palavras:
“Príncipe Aislin...
                Perdoe a minha forma arrogante na carta anterior, você foi maravilhoso em me devolver a poesia, mas peço que me entenda pois a idéia de estar me comunicando com um suposto príncipe dessa forma tão esquisita não me parece muito certa e nem lógica. Suas cartas caem do céu, e cada vez que vejo uma nova pedra presa a elas fico ainda mais confusa por não saber de que lugar ela seria. Vossa Alteza nunca me disse a que reino pertence, por acaso seria algum Príncipe da Inglaterra? Porque se for gostaria de parabenizá-lo por seu impecável português. Estou confusa e curiosa, por favor, me perdoe e me conte um pouco sobre você, sobre sua vida, sei que não é normal falar da intimidade para um estranho, mas é que essa confusão está me castigando e espero que me compreenda e não me entenda mal. Ficaria eternamente grata se aceitasse minhas desculpas.
                                                                                       Espero não muito tê-lo ofendido...
                                                                                                                                          Yara Marcielo”.

                A menina dobrou o envelope e desceu para o jantar de aniversário. No dia seguinte ás três da tarde ela estava no lago lançando mais um bilhete ao vento, e mais um papel pegava carona na ventania e viajava pelo céu com seu destino certo. Então, mais uma mensagem se foi, mensagem essa que teve resposta no dia seguinte para deleite dos olhos ansiosos de Yara que agora liam essas novas palavras de total interesse de sua curiosidade:

“Olá Yara!
                Acalme o seu coração! Eu não sou muito de perdoar, mas não nego que apesar de suas palavras insolentes o seu jeito me agradou. Sendo assim, saiba que não guardo mágoas sua e apesar de minha vida não te interessar eu vou falar um pouco de mim para a Senhorita, mas desde já aviso que não há nada de tão interessante, eu sou um poço de tédio.
                Vamos começar pela pedra que acompanha minha carta! Ela tem essa cor acinzentada e essa textura diferente de qualquer outra pedra que a Senhorita ou qualquer outra pessoa de seu planeta tenha visto, por um simples motivo: ela não é uma roxa da terra, ela é daqui, da Lua! Meu nome é Príncipe Aislin de Luna e meu sobrenome é assim – Luna – porque este é o nome do meu reino. Quanto ao meu título, confesso que não me incomodei muito quanto a sua desconfiança em relação a ele, afinal de Príncipe eu só tenho o título mesmo, pois nunca quis e nem gostei da idéia de assumir as responsabilidades que ele me trás. Sou conhecido por minha família e por todo o meu reino como o “rebelde” o “elo fraco da corrente”, todos aqui acham que eu sou louco porque ajo e penso diferente. Tenho vinte e um anos e posso com certeza dizer que já vivi muito mais coisas que meus pais e os pais dos meus pais. Por muitos lugares eu já viajei, pegando carona na cauda de cometas conheci vários planetas – inclusive o seu – peguei lindas estrelas para minha coleção, batizei galáxias, fiz grandes amizades com os mais diversos tipos de vida existentes espaço adentro. Enfim! Eu sempre fui aonde quis, comi, bebi, falei e agi como eu sempre quis. Agradeço aos deuses por não me terem concedido a má sorte de ter sido o primogênito, abro mão com todo o prazer desse posto de primeiro filho pro meu irmão baba ovo do reino e do papai, que faz sempre questão de mostrar quão responsável é e o quão inconsequente e menos maduro que minha irmã mais nova eu sou.
                De fato eu não nasci para ser príncipe, essa é uma coisa que eu não quero ser, então pra mim, príncipe eu não sou!
Espero que minhas breves, porém sinceras palavras sobre minha história sejam úteis para saciar ou alimentar ainda mais a curiosidade da Senhorita. Espero que me conte um pouco sobre a sua pessoa, também estou curioso...
                                                                                                     Príncipe Aislin.”
                Yara leu, ficou maravilhada e respondeu a carta:

“Alteza... ou melhor... Aislin...
                Obrigada por aceitar minhas desculpas e falar um pouco sobre você! Mas como você mesmo supôs, suas palavras alimentaram ainda mais a minha curiosidade e me encheu de admiração. Algo me diz que na minha vida não vou encontrar alma mais rebelde e mais aventureira que a sua só pelo pouco que me contou, mas... Eu lhe pergunto: Se você não é um príncipe, o que você é? Digo... Como pessoa, quem é você, como se julga? Julga-se uma pessoa boa? Pergunto-lhe isso pelo seu jeito meio ranzinza ( espero que não se ofenda ). E quanto a sua aparência? Você não vive na terra, é da lua, você é humano?
Quanto a mim... bom: Eu adoro ler, escrever, nadar nua no lago, e descobrir coisas novas! Tenho 17 anos, estou no ultimo ano do colégio e quero ser escritora. Adoro música, amo dançar, cantar e chorar com ela. Moro em um sítio com a minha avó e não costumo dar trabalho a ela, a não ser quando eu fujo pela janela do meu quarto para ir ao lago quando eu deveria estar fazendo o meu dever de casa. Meus pais se divorciaram e eu não quis ficar com nenhum deles, pois ambos foram morar em outras cidades e eu não queria ficar longe da minha avó e do sítio, sempre morei aqui com eles, esse lugar faz parte de mim e mesmo que todos não estejam juntos é aqui que eu quero ficar.
                Bom... Creio que é só isso. Aguardo sua resposta...
                                                                                                       .... Yara Marcielo.
Ela dobrou o papel, guardou, e no dia seguinte na mesma hora de sempre o lançou ao vento. Tendo novamente mais uma resposta...

“Olá de novo Yara...

A nossa “conversa” está se prolongando e pelo visto vai se prolongar ainda mais. Foi bom conhecer um pouco mais sobre você e admito... Estou encantado! Você tem um ar doce e romântico que fazia tempo que não o sentia na minha vida, saiba que está sendo um prazer trocar palavras com você.
                Você me questionou sobre “o que eu sou” e essa pergunta me pegou de surpresa! Nem eu sei o que sou ou quem eu sou. Se sou uma pessoa boa ou ruim, também não tenho algo concreto a  lhe dizer sobre isso, essa questão quando se trata da minha pessoa varia muito pois eu sempre fui aquilo que senti no momento. Digamos que... Eu sou uma pessoa intensa, se eu amo, amo muito e se eu tenho ódio, eu odeio de verdade. É como se eu tivesse Deus e o Diabo presos dentro de mim e eles se manifestassem cada um em determinada situação, bem intensos... Exatamente como são. No momento eu estou amargo – o que explica o meu jeito ranzinza – a muito tempo não sei o que é dar boas risadas, estou doente, intoxicado por uma fruta desconhecida que comi em um dos planetas que viajei, não tenho certeza se vou me curar embora eu esteja reagindo bem a magia de cura.
                Olha... Eu sou humano, mas não como você! Digamos que eu sou a sua raça melhorada, mais rápida, mais inteligente... Coisas assim. Estou mandando uma pintura minha feita por umas criaturinhas simpáticas que conheci na viagem que fiz para o outro lado do arco-íris. Ela parece estar meio borrada, mas é que a arte deles é assim mesmo. Ficaria feliz se me mandasse uma fotografia sua.
                                Deixo com a Senhorita um abraço meu. Aguardo sua resposta...
                                                                    
                                                                                                    Aislin...”

                Quando terminou de ler, Yara viu que não havia notado que o envelope dessa vez estava um pouco maior que o normal e que dentro dele havia outro papel além da carta, então ela o tirou de dentro.
                A menina ficou encantada com a pequena pintura feita em um tipo de tela fina com textura e tintas diferentes, era um trabalho tão bonito! As cores mostravam um rosto perfeito, que lembrava mais um rosto de um menino e não de um homem de vinte um anos. A pessoa presente naquela pintura tinha uma beleza infantil de uma perfeição surreal. Os olhos tinham um olhar profundo, o nariz era perfeitamente desenhado, a boca levemente carnuda tinha uma sensualidade sutil, o cabelo meio bagunçado trazia um ar de rebeldia, mas sem exageros, tinha também um furinho no queixo e dava pra notar que tinha também olhos claros, verdes talvez. Tudo o que estava ali era perfeito de mais para ser verdade e Yara não conseguia se conter de tanta felicidade, afinal ela estava se comunicando com um príncipe da lua! Um príncipe rebelde e perfeito da Lua! “Isso é mais perfeito que um sonho” pensou a menina enfeitiçada ao ver tanta beleza.
                Yara, claro, respondeu a carta e mandou uma foto sua. Aislin ficou maravilhado ao ver uma pessoa tão bela! Eles continuaram a trocar cartas, durantes dias, depois semanas, chagando a meses. Os assuntos eram muitos, eles falavam de tudo e com o tempo a intimidade foi surgindo e ambos abriam-se um com o outro contando segredos, desabafando sentimentos. Yara sabia o quanto o mundo individual de Aislin estava negro e fora de ordem, havia muita mágoa no coração por algum motivo que ele sempre tentava justificar, mas nunca conseguia então ela se empenhou a tentar fazê-lo feliz e a mostrar o quão bom ele era e o quanto a vida dele poderia ser melhor se assim ele o permitisse. Aislin confiava naquela linda menina e mesmo contra a sua vontade ele prometia a ela, tentar ser mais amável com sua família e as pessoas do seu reino, poucas vezes a promessa era feita pensando nele, pois ele sempre prometia por ela, para deixá-la feliz ao fazê-la ver de alguma forma que ele estava tentando ser uma pessoa melhor.
                Eles se consideravam grandes amigos, até que um dia uma pequena crise de ciúmes do Príncipe mudou toda a situação. Ele não gostou quando a menina mencionou o seu amigo de infância em uma das cartas onde ela dizia que eles eram muito próximos, tão próximos que as pessoas às vezes até perguntavam se eles namorados. Aislin não gostou dessa parte e respondeu de forma grosseira dando adeus a linda menina que se desesperou em meio a toda essa situação. Após várias cartas se desculpando e explicando que nada daquilo era exatamente como ele julgava, ela recebeu a seguinte resposta:

“Minha doce Yara...
                Por favor me perdoe! Você não merecia ter sido tratada assim, de forma grossa, eu sou um grande idiota e você não tem idéia do quanto eu estou me sentindo péssimo e envergonhado agora. Mas ainda assim não estou me sentindo tão mal quanto me senti quando li as suas palavras a respeito do seu tão querido amigo.
                Eu senti ciúmes Yara e por um momento tive medo de perdê-la! De repente a idéia de te ver nos braços de alguém me sufocou e então eu percebi que não queria vê-la perto de outra pessoa além de mim, e ao pensar isso me senti o maior egoísta de todos os tempos, afinal nós somos só amigos não somos? Você tem uma vida e um dia terá que amar alguém e desejar tê-lo pro resto da sua vida. E então foi ai que eu percebi que esse alguém não poderia ser outra pessoa além de mim, e mais uma vez a idéia de te ver namorando o seu amigo me sufocou.
                É isso mesmo Yara... EU ESTOU AMANDO VOCÊ! Mais do que isso, você se tornou a minha vida, os meus sentimentos, o meu motivo por querer lutar ainda mais para que o meu coração resista a esse veneno que ainda corre pelo meu corpo. Agora que sei o que sinto, mas do que nunca desejo senti-la, mas antes disso preciso saber de uma coisa minha doce menina... VOCÊ QUER SER A MINHA NAMORADA?
                                                   Por favor... me permita ser o seu amor...
                                                                        Deixo a você um beijo meu....
                                                                                                               Aislin...”


A garota mal conseguia acreditar nas palavras que havia acabado de ler. “Deus que isso não seja um sonho” sussurrou ela para si mesma. Agora ela tinha não tinha só um amigo perfeito, ela tinha a perfeição pedindo para ser amado por ela como se isso fosse um favor. Deus! É claro que ela queria amá-lo! Ela também o amava há muito tempo, isso era tão óbvio e agora ela se questionava como ela não havia percebido antes e só agora lendo essas palavras ela conseguia enxergar o sentimento que há tanto estava escondido dentro dela. Agora seu coração batia forte e sentia podia como se tivessem borboletas no seu estômago, Yara estava amando! A menina teve vontade de gritar, de correr, de sair abraçando todo mundo e dizendo a toa que um príncipe a amava, que um príncipe lindo e encantador como ninguém jamais havia visto estava caído de amores por ela e agora a queria como namorada! Ela nunca tinha se sentido tão feliz em toda a sua vida e agora queria prolongar essa felicidade , então tratou de responder a essa carta com as seguintes palavras:

“Sim, sim, sim meu amor!
                Eu quero ser sua, eu serei sua, eu já sou sua! De todo o meu ser declaro igual amor por você, e te entrego o meu coração! Toma a direção dele, faz o que quiser, pois agora mais do que nunca sei que só assim serei feliz!
                Você não sabe o quanto eu queria estar frente a frente com você agora e poder beijá-lo dizendo sim a cada palavra sua escrita naquela carta. Você tornou aquele dia o dia mais feliz de toda a minha vida me fazendo enxergar o quanto eu o amava e me dizendo o quanto eu sou amada por você. EU TE AMO AISLIN e quero sim ser feliz ao seu lado! Prometo amá-lo com toda a minha intensidade e desejá-lo mais que a minha própria vida.
                                   Sim! Eu aceito ser sua namorada....
                                                                                                     Yara Marcielo...”

                Aislin se sentiu realizado ao ler a resposta de Yara e desde então às cartas passaram a ser cheias de declarações, elogios, mimos e tudo e mais além do que o amor os oferecia. Aislin fazia planos para o futuro ao lado da sua amada, disse que ia vê-la logo, que ia passar um tempo na terra para se conhecerem melhor, que a pediria em noivado e a levaria com ele em inúmeras viagens para apresentá-la todos os mundos que por ele já eram conhecidos e para descobrirem novos mundos juntos. Eles estavam felizes e conforme o tempo passava a necessidade de um contato era cada vez mais intensa, então... O príncipe mandou para o seu amor a seguinte carta:
“Minha sereia dourada...
                Há meses nós temos nos falado, e há meses temos nos amado. Mas assim como você, não estou satisfeito com essa distância que só nos tortura quando tanto desejamos nos abraçar e nos beijar e por culpa dela não podemos. Não dá mais para continuar assim e é por isso que eu decidi remarcar a viagem ao seu planeta que seria feita no final desse ano. Por isso, em uma semana estarei aí. Eu vou te encontrar na terra meu amor e finalmente poderemos fazer tudo àquilo que o nosso corpo e o nosso coração tanto anseiam.
                                    Deixo aqui o meu beijo apaixonado....
                                                                                                              Aislin...”

“Uma semana! Uma semana!” Gritava a menina enquanto pulava de felicidade a beira do lago depois de ler a carta! Ela mal podia acreditar que em pouco tempo estaria ao lado da pessoa que agora havia se tornado a sua vida, e desde então ela não conseguia parar de contar as horas para acabar o dia, afinal, seria um dia a menos de espera para a chegada do seu amado príncipe rebelde.
Durante a semana eles continuaram se comunicando como de costume – só que agora ainda mais intensos e ansiosos – e Yara não pode deixar de parar e reparar na incrível mudança de Aislin. Agora ele não era mais aquela pessoa amarga que descontava a sua raiva em tudo e todos os culpando por alguma coisa que ninguém conseguia entender, ele havia mudado, estava mais doce, mais leve, feliz, agora ele sonhava, fazia planos desejava viver e parava de pensar na morte por conta do veneno que estava sendo expulso do seu corpo através da desintoxicação pela magia de cura. Era tão bom vê-lo assim, Yara que lutara tanto por isso começava a se sentir ainda mais realizada ao ver que seus conselhos e investidas estavam dando certo.
                Faltava apenas um dia para o tão esperado encontro e tudo o que Yara havia recebido de Aislin foi o seguinte bilhete:

“Falta pouco meu amor...
                Em breve você estará nos meus braços! Encontre-me amanhã a esta hora da tarde a beira do lago. E prepare o fôlego! Vai precisar de bastante quando eu beijá-la...
                                                                                                                           Aislin...”
               
                Yara beijou o bilhete e foi para casa aguardar o dia seguinte...
                O dia chegou e a menina que ainda nem havia dormido de tão ansiosa que estava, levantou da cama e foi disposta para escola como se tivesse tido uma boa noite de sono. Deveria estar anestesiada pela ansiedade, ela nem sentia o cansaço e só conseguia pensar no fato de que naquela tarde ela estaria nos braços da pessoa que ela mais amava no mundo. Ao chegar em casa Yara ignorou a comida e se preocupou em cuidar dos cabelos, das unhas e da pele, afinal, ela queria estar perfeita quando encontrasse Aislin.
Ás duas da tarde ela já estava no lago aguardando pela chegada dele, e ás três e ponto ela ficou de pé, assim, quando ela o avistasse poderia correr de imediato para os braços dele. Ela estava linda vestida em seu vestido azul turquesa preferido, soltinho, mas sem desvalorizar o seu corpo. Calçava uma sandália delicada, um pouco alta, de pedraria que ajudava a definir sua panturrilha e valorizava ainda mais as suas pernas a mostra pelo vestido curto. Seu cabelo estava solto, os cachos ainda mais definidos e única coisa que os enfeitava era uma linda presilha de borboleta com pedrarias na cor azul e dourada, seu rosto tinha pouca maquiagem, só as maçãs do rosto que estavam um pouco mais coradas e seus lábios estavam ainda mais tentadores com um brilho resultado de um gloss, talvez. Ela estava maravilhosa, e agora tudo o que ela tinha que fazer era esperar e se preparar para beijá-lo.
                Passaram-se trinta minutos e o príncipe Aislin ainda não havia chegado. Mas Yara ainda estava de pé, afinal, eram apenas trinta minutos de atraso e ele estaria chegando de uma viagem da lua, sabe-se Deus quantos imprevistos podem acontecer e acabar atrasando-o ao partir de um lugar assim. Mas os trinta minutos transformaram-se em horas e agora a jovem chorava encostada na árvore naquele campo coberto pela noite. Seu coração estava apertado e algo dizia que aquilo não era normal, afinal, porque Aislin a faria esperar tanto por nada? Isso não tinha sentido e se algo desse errado e ele não pudesse ir com certeza ele mandaria uma carta para avisá-la. Não... tinha algo errado nisso tudo e por isso ela chorava.
                Passaram-se dois dias e Yara continuava indo ao lago a espera de algum bilhete que justificasse a falta de Aislin, mas nada chegava a ela e a angustia em seu peito só aumentava e a fazia se desesperar ainda mais. Ele nunca tinha deixado de manter contato com ela um só dia e agora fazia três dias – contando com o dia do encontro – que ela não tinha um só sinal dele. “Aconteceu alguma coisa! Meu Deus, por favor! Cuide do meu amor, deixe-o bem!” disse a garota juntando as mãos e orando. E mais uma vez ela voltou para casa, desampara e sem noticias.
No dia seguinte Yara escrevia mais uma carta para o seu amado na esperança de que dessa vez ele a respondesse quando então, uma pequena folhinha com um comunicado escrito e uma fita preta presa a ela caiu devagar em seu colo trazendo a seguinte noticia:

“Comunicado oficial.
O Rei Dallan, comunica a todos do reino de Luna que nesta madrugada de domingo o príncipe Aislin veio a falecer. Em decorrência dessa tragédia todos do reino deverão amarrar essa fita preta que acompanha este bilhete, no seu pulso esquerdo e usá-la por uma semana. Nem um dia a mais e nem a menos.
                                                                                                    O Rei saúda a todos.”

                Ao ler essas palavras Yara perdeu o ar, o seu choro ficou engasgado e sua mente não conseguia pensar direito. Rapidamente ela se sentiu desorientada, seu peito queimava e o ar não chegava. Suas pernas estavam fracas e quando ela conseguiu ficar de pé, não viu mais nada.
                A menina acordou em sua cama, estava tonta e tinha a sua visão embaçada quando tentava enxergar a pessoa que estava ajoelhada ao pé da cama diante dela. “Yara minha filha, você está bem?” Era a voz de sua mãe aflita que Yara imediatamente reconheceu. Ao ouvir essas palavras, a jovem lembrou-se do bilhete que havia lido mais cedo e uma dor como a de uma faca acertando e remexendo em seu coração gritou em seu peito seguida pelo desespero. “Não, mãe! Por favor, me diz que é mentira! Diz-me que o amor da minha vida está vivo, me diz que ele não morreu. Por favor, me diz isso ou eu vou morrer também, a minha vida estava presa a ele, ele não pode ir, se ele for eu morro também você me entende?” Chorou a menina desesperada se jogando nos braços da mãe e afundando seu rosto em seu peito. “Eu não posso acreditar, Aislin não pode estar morto isso só pode ser mentira, um mal entendido, uma travessura de alguém ou dele mesmo. MORTO mãe, a carta dizia que ele estava MORTO e eu não pude nem tocá-lo! Como eu poderei viver com a idéia de que o homem da minha vida se foi sem eu ao menos tê-lo beijado? Amaldiçoado seja esse dia em que Deus resolveu tomar de mim a felicidade! Como pode de uma hora para outra um sonho lindo tornar-se um pesadelo? Parece que o amor veio a mim em forma de areia e quando eu o agarrei ele se foi entre os meus dedos. Como vou passar os meus dias sem uma única carta, um único sinal de vida? Quem vai dizer que me ama agora? Quem vai me fazer suspirar? A QUEM EU VOU AMAR? Eu estava transbordando vida e agora estou seca! O que fiz para merecer tamanha desgraça? O que eu fiz mãe?” Sara não conseguia falar nada, só abraçava forte a filha e involuntariamente as lágrimas correram pelo seu rosto. Ela nunca a tinha visto sofrer daquela maneira e embora não estivesse entendendo muito bem o que estava acontecendo, ela sabia que sua filha tinha perdido um pedaço da sua vida naquele dia.
                Passava da meia noite e Yara ainda chorava muito, sua dor era incontrolável e ela não parava de gritar num misto de tristeza, raiva, inconformismo e incredulidade. Sem saber mais o que fazer, Sara – sua mãe – dissolveu um calmante em copo com água e forçou com muito sacrifício que sua filha o tomasse. Passaram-se vinte minutos e Yara estava dormindo, o rosto encharcado de lágrimas e as mãos agarradas ao lençol como se buscassem forças em alguma coisa. Sara beijou aquela garota com a aparência sofrida, em seguida apagou a luz e saiu do quarto com dor no coração ao ver aquela que era o seu mundo, tão fragilizada daquela maneira. Então ela respirou fundo, fechou a porta e partiu em direção ao seu quarto na certeza de que o forte remédio faria a jovem descansar durante toda a madrugada.
                Às três horas da manhã Yara acordou com um forte clarão em seu rosto ele vinha da janela e foi diminuindo aos poucos. Então ela levantou – cambaleando um pouco por conta do stress e do forte remédio – e seguiu em direção á janela que agora aberta, deixava o vento frio entrar. Ela olhou para fora e procurou olhando para todas as direções se perguntando o que teria sido aquilo e o que causaria tal clarão e quando viu que nada havia encontrado fechou a janela descendo em seguida a cortina. Ela sentou a beira da cama e virou-se para o criado mudo que ficava ao lado na intenção de dar um gole no copo com água que sua avó sempre fazia questão de deixar ali, ao lado. E então... Uma surpresa! No lugar do copo ela encontrou um bilhete prata preso a uma caixinha não muito pequena bem antiga, de madeira, com lindas esmeraldas cravadas nela. Ela reconheceu aquele bilhete e com os olhos cheios de lágrimas e o coração apertado, ela ligou o abajur para poder ver melhor aquele objeto desconhecido que acompanhava uma linda coisinha que por ela era muito conhecida. E ao abrir o envelope suas mãos tremeram ao tocarem um lindo bilhete que trazia aquela letra que ela tanto amava e que agora sentia falta. As lágrimas começaram a correr bem rápidas em seu rosto, era difícil se controlar naquele momento, afinal aquela carta e aquela letra só poderiam ser de uma só pessoa e essa pessoa segundo o seu conhecimento estava morta agora, então Yara respirou fundo, as mãos trêmulas e frias segurando papel, a voz presa custando para sair lendo as seguintes palavras:

“Minha sereia dourada...
                Meu mundo, meu coração, meu amor, minha razão. A ÚNICA há qual um dia o meu coração amou e agora vai amar eternamente!
                Sei que você já sabe que eu não pertenço a mais nenhum desses mundos e sei também o quanto o seu coração está sofrendo. Você não tem idéia meu amor do quanto está me fazendo mal te ver assim, chorando, se desesperando, lamentando e amaldiçoando a sorte por eu não estar mais encarnado em meu corpo. E é por te ver sofrendo que venho aqui pela ultima vez te deixar as minhas palavras.
                Você já sabe que você me fez bem, mas você não tem idéia do quanto, então a primeira coisa que vou deixar claro aqui é o bem que você fez a minha vida. Você me fez amar e me deu a oportunidade de ser amado pela garota mais linda e encantadora de todo o mundo! Com você eu fui feliz e graças a você eu ainda posso ser, pois cada coisa que ao seu lado eu vivi e aprendi estão gravadas dentro de mim para todo o sempre. Você me fez querer viver, me fez sonhar, me fez reagir quando eu já me sentia morto! Você foi a minha vida e é até hoje, eu serei grato eternamente aos deuses que te puseram na minha vida e me deram a chance de ser alguém de verdade e de sentir de verdade, porque até então eu estava preso a sentimentos ocos que só aumentavam ainda mais o meu vazio.
                Meu amor! Eu sei que agora dói que parece que o mundo inteiro está contra você, mas tudo isso vai passar amor, TUDO PASSA, e um dia você não irá lembrar mais de mim com tristeza e sim com alegria, porque você só irá lembrar da minha vida e não da minha partida. A morte pra mim está sendo só o começo de uma nova vida, eu sempre quis ser livre, você sabe! E os deuses viram que esse mundo era pequeno demais para mim, então eles me trouxeram para um novo mundo e me deram asas meu amor! Sim, asas! Agora eu posso voar sozinho sem precisar pegar carona em cometas e também viajo agora em outras dimensões além dessa na qual você se encontra agora. EU SOU UM ANJO AGORA MINHA PRINCESA! REBELDE, TEIMOSO, ÀS VEZES MALCRIADO E AVENTUREIRO COMO SEMPRE. Você ganhou um anjinho da guarda agora meu amor! Então por favor, seja feliz e com um tempo abra o seu coração para alguém que a mereça tanto quanto eu – aquele seu amigo quem sabe? – Mantenha-se a menina viva e feliz de sempre, aquela da poesia encantadora que eu conheci.
Ah! Antes que eu esqueça! Sabe essa caixa que está acompanhando o envelope? Tem um presente nela pra você. É minha estrela preferida e eu não poderia confiá-la a mais ninguém, só poderia entregá-la ao grande amor da minha vida. Eu a batizei... Seu nome é Yara, dei a minha melhor estrela o nome da melhor e mais linda garota do mundo! Sempre que sentir saudades de mim leve-a a algum lugar com pouca luz e abra a caixa, o brilho dela será a minha vida que hoje brilha graças a você. AMAREI-TE POR TODA A ETERNIDADE!
                                                                            Beijos do seu anjinho torto!”

                Yara mais uma vez não se conteve e começou a chorar novamente, ela pegou aquela linda caixa e a pôs no colo. Ao abri-la teve o rosto iluminado por uma Luz forte que a acalmou, aquela estrela era realmente linda, seu brilho era diferente, desordenado, tinha certas variações, ela nunca brilhava de forma constante, sua luz tava sempre oscilando, mas sem jamais perder a sua força. Então ela pôde entender porque Aislin gostava tanto daquela estrela, ela era exatamente como ele, tinha um brilho inseguro, mas nunca deixava de brilhar. Brilhava a sua maneira, desajeitada, mas nunca passava por despercebida. E então... Yara Sorrio, fechou a caixinha e deitou agarrada a ela caindo então num sono calmo e profundo. E naquela noite ela sonhou com o seu grande amor, e no sonho ela pôde beijá-lo, e abraçá-lo. Ela não o sentia com o toque, mas sentia com o coração e mesmo sendo um sonho, teve certeza de que ele realmente estava ali, encontrando-a finalmente, e selando a lembrança daquela amor por toda a eternidade. 

2 comentários:

  1. Maisaa, minha flor, amei seu conto!!!
    Sabe o quanto ler isso me deixa emocionada num é?
    Parabéns meeesmo! bjux

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  2. Maisaaa!

    Amei o seu conto. Que vem carregado de um amor tão lindo que nos deixam felizes por ver que tudo foi o mais puro e verdadeiro amor....

    Parabéns, perfeito! bjuxx

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